segunda-feira, 23 de maio de 2011

Ao Zero

"Nem te atrevas onde há trevas."
Não me atrevo.
Aqueles pequenos olhos azuis continuam me olhando debaixo da cama, brotando e espalhando sua prole em todo o canto que produz sombra. Umbrais arautos de pesadelo, pequenos horripilantes olhos azuis assistindo a cada lágrima que cái. O desespero, a fissura, o vício. As agulhas espiando também da borda do criado mudo. Aliás, o silencio só é quebrado pelos distantes risos. Sabia! São aqueles olhinhos. Eles escarnecem de minha ruína, agravam minha enxaqueca, e causam pesadelos. Eles querem que eu perca minha fé. Eles querem que eu conte meu segredo. Eles devoram segredos. Não contarei. Não sucumbirei. A agulha sempre, sempre mentiu para mim. São mentiras de olhos azuis e dentes afiados. Progênie Abissal, descendentes de Belial. Enquanto gargalham debaixo de tudo que é umbral, me desfaço em preces e suor. Desarmado, Desesperado e Desossado, por fim.
São o sussurro do coma. Não aguento mais os tons de ciano, no céu, no teto, no sangue que escorre. Até mesmo quando fecho meus olhos, vejo como um espelho o meu reflexo, e lembro de como são azuis meus olhos.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Antropropaganda

Santos. Diziam-se santos.
Ignóbil convencimento de que uma raça, credo ou nação é superior.
Enquanto Homens, todos lixo.
Parem seus ideais na lama, escravos de seus sucos gástricos; eram antropofágicos.
Pobre orgulho de um povo sem-terra; Sem-Terra.

Hi-Tech Low-life

O julgamento impiedoso, inexorável do réu miserável,
condenado a viver no mais baixo da indústria de sua vida,
produzindo prantos, consumindo inglórias. É sua rotina. Bom dia.
É um bêbado, inebriado de vida, respira, respira para ficar alto, respira sem parar;
E a máquina de deus nega-lhe cada vez mais seu precioso oxigênio,
para dar-lhe apenas a fulígem, cuja massa negra dá apenas conta de escurecer o futuro da raça.
Irônicamente, quer ficar alto, mas vive em auto-rebaixamento.
Financia a igreja de platina e chumbo, e vira carvão.